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25 de janeiro de 2012

Impressões da 18ª Mostra de Dança Verão


                                                                      Por Gabriela Camargo


            “O importante é participar”, já dizia o Autor Desconhecido. Na 18ª mostra de Dança verão de Porto Alegre, a participação de todos os grupos e artistas foi essencial para revelar a diversidade do panorama da dança na cidade. Eu, como bailarina em transição de modalidades, e até mesmo sem modalidade definida, pude usufruir da infinidade de códigos em que o gesto e movimento podem ser aplicados. Confesso que flerto avidamente com a hibridização de linguagens, por ser esta, uma forma de explorar sentidos (tanto significados como sensações) e que permitem experimentar possibilidades além da técnica bem-executada e expressividade.
            Nesse sentido, destaco o trabalho do Grupo Necitra “O leite e a goiaba: como tudo começou”, que mistura circo, dança e teatro. Nesse trabalho, é possível ver o movimento técnico aplicado dentro de uma proposta narrativa clara, mostrando que é possível usar a técnica em um contexto narrativo cômico e envolvente, preservando o jogo, a precisão e a sutileza do gesto. Na noite seguinte, “As humanas pré-ocupações e a magia de Amarte”, de Felipe Suares construiu uma cena instigante e surpreendente, também utilizando o cômico para moldar ou afetar o gesto técnico.
Já “Um solo sem nome” de Luciana Hoppe e Alexandra Castilhos com o uso da projeção de vídeo, suscita ecos da influência pós-modernista, por estabelecer conexões digitais entre mundos tão diferentes. O mosaico do corpo da bailarina, sobreposto pela letra da música em alemão e a sua tradução, despertaram questionamentos sobre a maneira como o mundo digital e virtual influenciam a noção de criação. Confesso que tenho certo fascínio pela produção amadora de vários tipos de arte (não institucionalizada), por não artistas e divulgados basicamente na Internet para um público específico, como, por exemplo, compilações de vídeos feitos por fãs, manipulação digital de fotografias, fanfictions, e mesmo, vídeos caseiros de subgêneros de dança. A sobreposição do vídeo e da coreografia são, para mim, inspirações para as inúmeras formas de arte que a modernidade (digital) pode proporcionar e como a dança pode e deve participar disso.
Na última noite, Paula Finn e seus “Estudos para a suspensão” exibiu um trabalho magnífico de apropriação técnica também flertando com uma linguagem híbrida, rodeada por uma aura e uma poética autênticas.
            Poética autêntica também pode ser encontrada no solo de Samira Abdalah, em “Memórias de um corpo que sente”. Este trabalho despertou em mim um sorriso e uma epifania. Um trabalho de sinceridade emocional e mistura de força e fragilidade que expressou muito bem, para mim, a tridimensionalidade e complexidade da memória, da sensação e do corpo. Este trabalho me fez querer sair da passividade e participar também, de processos de criação. Aliás, foi notável a presença de solos femininos trazendo uma poética interessante. Algumas delas comparáveis com obras de outra natureza, como o minimalismo literário de Raymond Carver em “Dirty Old Man, com Iandra Cattani, de Katherine Mansfield, em “Um tempo, um instante”, de Luciana Paludo e Virginia Woolf, em “(Des)amordaçar, de Juliana Werner e Airton Tomazzoni. O solo de Raisa Torterola “Teus olhos não me ouvem”, também é um exemplo de uma abordagem interessante utilizando a dança contemporânea e a linguagem de sinais.
            Também estiveram presentes peças como as coreografias de Isabel Willadino (Pentagrama, Só por hoje) e Glenda Duarte (Sala de Jantar, Marionetes) com composições visualmente bem arquitetadas e, às vezes, hipnotizantes. Além dessas, as coreografias de hip hop foram especialmente vibrantes, com musicalidade excepcional e a vitalidade que essa modalidade geralmente apresenta.
             Mas para mim a experiência mais arrebatadora de todas as noites foi assistir ao trio de Frey Faust, Didi Pedone e William Freitas. O tempo transcorrido durante esta apresentação foi um momento em suspenso, em que me permiti apreciar livremente o movimento executado com prazer. A intimidade com a força gravitacional dava ares, às vezes, astronáuticos aos bailarinos, e eu, ao assisti-los, pude usufruir dessa sensação, sentindo-me flutuante.
            Saí das quatro noites da mostra carregada de ideias e sensações, sabendo que há espaço na cidade para as mais diversas propostas e linguagens em dança.

Gabriela Camargo


                                             







 Frey Faust, Didi Pedone e 
William Freitas




 




 "Um solo sem nome"
de Luciana Hoppe,
com Alexandra Castilhos





Paula Finn em 
Estudos para a Suspensão

2 comentários:

  1. Importante o exercício da escrita na dança! Parabéns!

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  2. Importante que a dança tenha esse exercício da escrita sobre a sua produção. Parabéns!

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