Centro Municipal de Dança


Centro Municipal de Dança é um órgão da Secretaria Municipal da Cultura (SMC) da Prefeitura de Porto Alegre que articula as políticas públicas de dança na capital gaúcha. Atua na preservação da memória, no fomento à produção, na formação de público, difusão e acesso às informações da dança. Desenvolve atividades artístico-pedagógicas e promove relações com a produção em dança estadual, nacional, e internacional. O objetivo é valorizar os profissionais, promover a produção e o desenvolvimento da arte da dança, tornando-se um espaço de referência para a área na cidade de Porto Alegre.

PROJETOS DO CENTRO DE DANÇA

PUBLICAÇÕES DO CENTRO DE DANÇA

25 de janeiro de 2012

Impressões da 18ª Mostra de Dança Verão


                                                                      Por Gabriela Camargo


            “O importante é participar”, já dizia o Autor Desconhecido. Na 18ª mostra de Dança verão de Porto Alegre, a participação de todos os grupos e artistas foi essencial para revelar a diversidade do panorama da dança na cidade. Eu, como bailarina em transição de modalidades, e até mesmo sem modalidade definida, pude usufruir da infinidade de códigos em que o gesto e movimento podem ser aplicados. Confesso que flerto avidamente com a hibridização de linguagens, por ser esta, uma forma de explorar sentidos (tanto significados como sensações) e que permitem experimentar possibilidades além da técnica bem-executada e expressividade.
            Nesse sentido, destaco o trabalho do Grupo Necitra “O leite e a goiaba: como tudo começou”, que mistura circo, dança e teatro. Nesse trabalho, é possível ver o movimento técnico aplicado dentro de uma proposta narrativa clara, mostrando que é possível usar a técnica em um contexto narrativo cômico e envolvente, preservando o jogo, a precisão e a sutileza do gesto. Na noite seguinte, “As humanas pré-ocupações e a magia de Amarte”, de Felipe Suares construiu uma cena instigante e surpreendente, também utilizando o cômico para moldar ou afetar o gesto técnico.
Já “Um solo sem nome” de Luciana Hoppe e Alexandra Castilhos com o uso da projeção de vídeo, suscita ecos da influência pós-modernista, por estabelecer conexões digitais entre mundos tão diferentes. O mosaico do corpo da bailarina, sobreposto pela letra da música em alemão e a sua tradução, despertaram questionamentos sobre a maneira como o mundo digital e virtual influenciam a noção de criação. Confesso que tenho certo fascínio pela produção amadora de vários tipos de arte (não institucionalizada), por não artistas e divulgados basicamente na Internet para um público específico, como, por exemplo, compilações de vídeos feitos por fãs, manipulação digital de fotografias, fanfictions, e mesmo, vídeos caseiros de subgêneros de dança. A sobreposição do vídeo e da coreografia são, para mim, inspirações para as inúmeras formas de arte que a modernidade (digital) pode proporcionar e como a dança pode e deve participar disso.
Na última noite, Paula Finn e seus “Estudos para a suspensão” exibiu um trabalho magnífico de apropriação técnica também flertando com uma linguagem híbrida, rodeada por uma aura e uma poética autênticas.
            Poética autêntica também pode ser encontrada no solo de Samira Abdalah, em “Memórias de um corpo que sente”. Este trabalho despertou em mim um sorriso e uma epifania. Um trabalho de sinceridade emocional e mistura de força e fragilidade que expressou muito bem, para mim, a tridimensionalidade e complexidade da memória, da sensação e do corpo. Este trabalho me fez querer sair da passividade e participar também, de processos de criação. Aliás, foi notável a presença de solos femininos trazendo uma poética interessante. Algumas delas comparáveis com obras de outra natureza, como o minimalismo literário de Raymond Carver em “Dirty Old Man, com Iandra Cattani, de Katherine Mansfield, em “Um tempo, um instante”, de Luciana Paludo e Virginia Woolf, em “(Des)amordaçar, de Juliana Werner e Airton Tomazzoni. O solo de Raisa Torterola “Teus olhos não me ouvem”, também é um exemplo de uma abordagem interessante utilizando a dança contemporânea e a linguagem de sinais.
            Também estiveram presentes peças como as coreografias de Isabel Willadino (Pentagrama, Só por hoje) e Glenda Duarte (Sala de Jantar, Marionetes) com composições visualmente bem arquitetadas e, às vezes, hipnotizantes. Além dessas, as coreografias de hip hop foram especialmente vibrantes, com musicalidade excepcional e a vitalidade que essa modalidade geralmente apresenta.
             Mas para mim a experiência mais arrebatadora de todas as noites foi assistir ao trio de Frey Faust, Didi Pedone e William Freitas. O tempo transcorrido durante esta apresentação foi um momento em suspenso, em que me permiti apreciar livremente o movimento executado com prazer. A intimidade com a força gravitacional dava ares, às vezes, astronáuticos aos bailarinos, e eu, ao assisti-los, pude usufruir dessa sensação, sentindo-me flutuante.
            Saí das quatro noites da mostra carregada de ideias e sensações, sabendo que há espaço na cidade para as mais diversas propostas e linguagens em dança.

Gabriela Camargo


                                             







 Frey Faust, Didi Pedone e 
William Freitas




 




 "Um solo sem nome"
de Luciana Hoppe,
com Alexandra Castilhos





Paula Finn em 
Estudos para a Suspensão

2 comentários:

  1. Importante o exercício da escrita na dança! Parabéns!

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  2. Importante que a dança tenha esse exercício da escrita sobre a sua produção. Parabéns!

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